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05 de maio de 2021 Artigos

Legal Operations, escritórios de advocacia e o futuro do mercado jurídico

Uso de dados analíticos é uma das formas como o conceito de Legal Operations pode contribuir para maior eficiência jurídica

Em seu livro Tomorrow’s Lawyers, o Prof. Richard Susskind nos apresenta o que chama de “desafio mais-por-menos”. De acordo com a obra, que analisa as atuais transformações no Direito e seus reflexos no futuro, há nos departamentos jurídicos e nos escritórios de advocacia uma crescente pressão por controles de custos mais rígidos e maior eficiência na execução de atividades a questões legais. Esse cenário de demandas complexas e recursos cada vez mais escassos para suas resoluções requer das organizações um esforço de criatividade para pensar em novas formas de exercer as práticas jurídicas.

 

Nesse sentido, é claro, uma das respostas mais óbvias passa pela adoção de novas tecnologias como norte para resolução do dilema da eficiência no Direito. Contudo, há muito mais a ser endereçado do que simplesmente trazer novas ferramentas como inteligência artificial ou automação, por exemplo. É justamente nesse contexto que surge e se desenvolve um dos conceitos mais importantes para o mercado jurídico da atualidade: as Legal Operations, ou “operações jurídicas”, em tradução livre.

 

A ideia por trás das Legal Ops, como é apelidada a prática, é simples em sua essência: profissionais do Direito, dado seu alto grau de especialização, devem se concentrar no exercício de atividades jurídicas. Tarefas relacionadas à gestão financeira, marketing, tecnologia e gestão de fornecedores, por exemplo, podem ser executadas por profissionais especializados, não necessariamente com formação na área. Admite-se, assim, a interdisciplinaridade e a multifuncionalidade no contexto de escritórios e empresas, representadas principalmente por profissionais não jurídicos que participam ativamente da realização dos trabalhos e da tomada de decisões.

 

Como era de se esperar, de início essa ideia ganha força principalmente no mundo corporativo, do lado de clientes, no qual empresas travam uma batalha diária pelo enxugamento de custos de departamentos jurídicos e suas respectivas atividades. Ao contar com a experiência e o preparo de profissionais multidisciplinares no planejamento e gestão de demandas legais, bem como de ferramentas tecnológicas e metodologias especializadas, um Diretor Jurídico é capaz de planejar de forma otimizada o seu setor, liberando advogados para se concentrarem em trabalhos jurídicos mais complexos.

 

Contudo, os efeitos da utilização cada vez mais frequente de Legal Ops por clientes podem ser sentidos por escritórios, que estão posicionados no mercado como prestadores de serviços jurídicos. É importante destacar, nesse sentido, que essas organizações podem enxergar a prática tanto como usuários de seus preceitos quanto também sob uma perspectiva de novas oportunidades para melhorar seu relacionamento com clientes.

 

Inicialmente, lembramos que as práticas relacionadas a Legal Ops não são exclusivas para empresas. Apesar de serem especialmente efetivas para as demandas jurídicas de um departamento interno (in-house), é sabido que advogados externos, enquanto fornecedores, também podem incorporar atividades interdisciplinares na entrega de seus serviços. Não à toa, escritórios têm estudado e investido em temas como gestão de projetos jurídicos (Legal Project Management), uso de tecnologias para aumento de eficiência, análise de dados (analytics), gestão do conhecimento, entre outros assuntos intimamente relacionados com as melhores ideias no campo de Legal Operations.

 

Mais além da utilização do conceito, é fundamental que escritórios se preparem para o que ele faz no sentido de criar uma nova realidade para o relacionamento entre escritório e cliente corporativo. A existência de uma área de Legal Operations (ou da simples utilização de suas ideias) na ponta contratante é capaz de alterar significativamente as expectativas e o perfil do consumidor dos serviços jurídicos. Agora, o destinatário de um trabalho não necessariamente será um outro advogado; pode haver, em algum momento, o envolvimento de profissionais de outras áreas. É preciso que os serviços sejam então pensados e executados de forma holística, garantindo eficiência, compreensão e ajudando empresas a diminuírem as lacunas existentes entre departamentos jurídicos internos e as áreas de negócio (financeiro, marketing, etc). Para escritórios, isso acaba criando uma necessidade urgente de ajustes na forma de entrega dos trabalhos, nos canais de relacionamento com clientes ou até mesmo na linguagem utilizada para transmissão das informações.

 

Por ser tão aberto, o conceito de Legal Ops tem se desenvolvido em escritórios por meio de iniciativas de inovação estruturadas, treinadas para olhar, planejar e oferecer suporte à prática jurídica de um modo amplo e multidisciplinar. Não basta apenas pensar em como utilizar novas tecnologias nos serviços – é preciso garantir a implantação das ferramentas certas nas atividades certas, além de alinhar esses objetivos com outras ações culturais (treinamento, conhecimento, linguagem) e metodológicas (legal design, projetos, plataformas, análise de dados).

 

A mudança não é fácil, mas é necessária. Com ideais de Legal Ops ganhando cada vez mais força no meio jurídico, empresas otimizam suas demandas e tendem a exigir de escritórios uma adaptação pari passu com suas novas necessidades. Transformando o Direito em pessoas, processos e tecnologias, esse novo conceito representa o futuro do mercado jurídico e torna-o ainda mais competitivo e complexo. Susskind, tentando nos apresentar o futuro, acertou novamente – e o que então era uma previsão, já se tornou o presente.

 

Publicado originalmente pela International Legal Technology Association

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